Deixa eu dizer uma coisa, São Paulo.
Você não me engana. Essa história de “alguma coisa acontece no meu coração” é pra bicho vendido que não sabe da fumaça que engole. Você finge não se importar, cresce pra cima, aumenta a buzina só pra eu não ouvir você. Aquele mar de gente, sabendo exatamente aonde não vai, não sabe como vai morrer e sequer entende das suas contradições.
São Paulo, eu não te conheço de hoje. Eu não te conheço nem um pouco, na verdade. A Avenida Paulista é só a sua roupinha prêt-à-porter pra hippie burguês tomar puro malte e fingir que gosta. Tem muita coisa escondida aí.
Mas teve um dia – e não foi nessa vida – que você me engoliu que nem ciclone e foi estilhaçando todos os meus vitrais blindados. Teve um dia, São Paulo, que você cuspiu em mim a dor de não ser livre, porque as amarras nos meus pulsos são mais fortes e mais imaginárias que as estruturas da Estação da Luz.
Faz sentido: você não é pra qualquer um. Também tem pouca gente que me atura. Talvez por isso eu tenha tido essa visão no reflexo dos carros que em você passavam…